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Mostrando postagens de agosto, 2022

Convite à Filosofia

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Para que serve a filosofia? Maria Das Graças De Souza Nascimento Convite à Filosofia Marilena Chauí. Ática 440 págs. Concebido originalmente como um livro para estudantes de segundo grau, o Convite à Filosofia, de Marilena Chauí, recentemente publicado pela Editora Ática, é muito mais do que um simples texto didático. É uma introdução ao universo filosófico que deverá interessar a todos aqueles leitores que tenham o gosto pelo exercício do pensamento. São várias as dificuldades que devem ser enfrentadas pelo autor de uma introdução à filosofia. Uma delas diz respeito à exigência de manter a clareza e a simplicidade, sem contudo abandonar o rigor. Neste aspecto, o livro de Marilena Chauí é notável. Sem recorrer a procedimentos facilitadores, trata questões por natureza difíceis de modo claro e perfeitamente compreensível para um leitor não iniciado, mantendo sempre a exatidão exigida pela linguagem filosófica. Costuma acontecer que os autores deste gênero de livros, temendo que a aridez...

Ideologia e contraideologia

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BOSI, Alfredo. Ideologia e contraideologia. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. 448 p Hegemonia e emancipação Franklin Leopoldo e Silva Ideologia e contraideologia é um título muito significativo: mais do que designar um livro, ele designa a atitude que esse livro expressa. Pensar contra não se define como uma negação que começa e acaba em si mesma. Inclui também a positividade na forma da possibilidade. E esses dois elementos se reúnem quando entendemos que a positividade, incluída no pensamento de uma outra possibilidade, é alimentada pela negação, isto é, pela recusa do existente e da representação hegemônica do mundo e da história. Uma tarefa sempre por se fazer, isto é, estamos sempre no meio do caminho: é muito tarde para desistir e voltar ao limiar, recusando a marcha, e é muito cedo para cantar vitória - para acenar com o reconhecimento de um ponto de chegada. É sintomático que o livro não traga nem introdução nem conclusão. Começa com notas de trabalho, como se o leitor peg...

Políticos ao entardecer

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Ney Figueiredo (organizador) – Políticos ao entardecer. Antonio Paim * A idéia era verificar qual a situação patrimonial, ao falecer, de políticos de grande destaque na vida nacional, alguns dos quais foram apontados como corruptos. Das oito personalidades selecionadas, quatro haviam sido Presidentes da República enquanto, dentre os demais, três foram governadores e o último, ministro de um dos governos militares sobre o qual pesava a acusação de enriquecimento ilícito. Tomou-se por base os respectivos inventários e sua análise foi atribuída a grupo experiente de jornalistas. Deveu-se a iniciativa a Ney Figueiredo, intelectual possuidor de grande familiaridade com o poder, familiaridade que tem sabido documentar em livros de grande sucesso, a exemplo de Diálogos com o poder. Políticos, empresários e mídia: verdades e mentiras (2004). A par disto, tendo dirigido campanhas eleitorais não só nos três níveis de governo mas igualmente nas mais importantes entidades empresariais, soube gener...

A cabeça do brasileiro

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Alberto Carlos Almeida – A cabeça do brasileiro Antonio Paim * Rio de Janeiro, Editora Record, 2007. A obra em apreço toma por base as hipóteses sobe o Brasil, da lavra de um dos mais eminentes sociólogos brasileiros contemporâneos: Roberto DaMatta. DaMatta nasceu em 1936, sendo natural de Niterói. Fez curso de pós-graduação em antropologia social no Museu Nacional, seguindo a carreira universitária, nessa mesma instituição. Concluiu o doutorado, em idêntica área, na Universidade de Harvard, Estados Unidos. Foi professor visitante nas Universidades norte-americanas de Berkley e Notre Dame. É co-editor da revista Current Antropology e do Anuário Antropológico, este publicado regularmente pela Editora Tempo Brasileiro. De início ocupou-se de etnografia, com base em pesquisas desenvolvidas junto às comunidades indígenas remanescentes no Médio Tocantins. Seu primeiro livro de sociologia, uma autêntica novidade, intitulou-se Carnavais, malandros e heróis (1979). A hipótese básica, então apr...

O socialismo jurídico

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Friedrich Engels e Karl Kautsky, Ed. Boitempo A obra O socialismo jurídico se volta contra os rumos da esquerda do século XIX. Aponta, no entanto, para práticas que fariam história nos séculos XX e XXI. Antevê, pois, a tragédia do reformismo e remete à necessidade de uma esquerda efetivamente anticapitalista. Para Engels e Kautsky, é impossível se contrapor realmente ao domínio burguês caso se deixe “de modo mais ou menos intacto o cerne do problema, a transformação do modo de produção” (p.20). A centralidade da busca progressiva de conquistas jurídicas seria ilusória. O Direito pressupõe a relação-capital: sob as vestes da igualdade e da liberdade jurídicas está a relação contratual pela qual “livremente” é vendida a força de trabalho em condições de “igualdade” perante a classe detentora dos meios de produção. A defesa de um “socialismo jurídico” seria, em verdade, a defesa do modo como a exploração da classe trabalhadora toma forma na sociedade capitalista. Têm-se, assim, “socialist...

Trabalho e dialética: Hegel, Marx e a teoria social do devir

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Jesus Ranieri, Ed. Boitempo Os impasses contemporâneos têm gerado um novo interesse pelo pensamento daquele a quem Goethe chamou, no sentido da grandeza, de “o primeiro filósofo da Alemanha” – isto é, Hegel. Em Trabalho e dialética, Jesus Ranieri recoloca à altura a centralidade de Hegel para uma compreensão rica da obra de Marx e para uma teoria social articuladora de uma práxis da emancipação humana. No embate filosófico de fundo, antikantiano e crítico das teorias epistemológicas e políticas abstratas e moralistas do dever ser, o livro cumpre papel precioso, frisando o modo dialético de pensar comum a Hegel e a Marx no que tange à apreensão imanente do real como processo do devir, ou vir a ser, o que fez Hegel chamar a ciência de sistema e declarar que o absoluto não é a noite em que todos os gatos são pardos, mas também não é o pássaro que se pega na visgueira, pois o absoluto, ou o verdadeiro como processo, está sempre junto. À luz dessa diretriz, que firma o subtítulo “Hegel, Mar...

Espectro

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Perry Anderson, Ed. Boitempo Editoral Há exatamente cinquenta anos, quando, com um grupo de jovens intelectuais, Perry Anderson assumiu a direção da revista marxista britânica  New Left Review , o panorama intelectual da esquerda no mundo começou a mudar. Como uma das poucas revistas sobreviventes da  débacle  que afetou a esquerda no mundo, a NLR continua a ser uma referência teórica essencial, com Anderson levando a voz cantante no grupo que a publica. No conjunto de sua obra, o autor reservou um lugar essencial para o debate intelectual, desde quando,  enfant terrible da nova esquerda britânica, polemizou com Edward Thompson. Desde então ele colecionou uma série de ensaios de balanço de autores – em geral contemporâneos – relevantes. Desde seu  Considerações sobre o marxismo ocidental  – o melhor exame das primeiras gerações de pensadores marxistas –, passando pelo balanço geral da obra de Gramsci –  As antinomias de Gramsci  –, Anderson foi de...

A coragem da verdade

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Michel Foucault, Ed. Martins Fontes A questão da constituição do sujeito perpassa a obra de Michel Foucault, e neste curso – o último antes de sua morte – ele questiona os modos de constituição ética dos sujeitos por meio da coragem de dizer-a-verdade ( parresía ). A  parresía  é uma missão de vida filosófica e traduz-se em coragem de mostrar ao outro a “verdadeira vida”. Para tanto, Foucault perfaz a história da  parresía desde a ironia socrática, que alia o dizer da verdade ao cuidado de si e do outro ( epiméleia ). A prática de verdade socrática não diz respeito à vida na pólis, mas é atinente ao indivíduo e suas formas de conduzir-se em relação a si mesmo e aos outros. Por conseguinte, Foucault conclui que a  parresía socrática conduz às duas grandes concepções filosóficas ocidentais: de um lado, a metafísica platônica, pautada nas questões da alma e no cuidado de si mesmo com o fim de alcançar outro mundo – a verdade é, pois, transcendental. De outro lado, a con...

De Rousseau a Gramsci: Ensaios de Teoria Política

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Carlos Nelson Coutinho, Ed. Boitempo Editorial O fio norteador de  De Rousseau a Gramsci  é a questão da democracia na teoria política. O livro, dividido em duas partes é composto de oito ensaios, publicados anteriormente em revistas acadêmicas e coletâneas, entre 1996 e 2011, que no conjunto delineiam o perfil intelectual de Carlos Nelson Coutinho. O primeiro ensaio discute a crítica da desigualdade em Rousseau, para quem a sociedade burguesa, baseada na distribuição desigual da propriedade, não cria as condições necessárias para a democracia, definida como expressão política da vontade geral. O segundo trata do conceito de vontade geral em Hegel, que lhe confere uma base objetiva, isto é, determinada por condições históricas e sociais. Hegel avança nesse sentido em relação a Rousseau, que considerava a vontade geral o resultado da evolução virtuosa das vontades dos indivíduos. O terceiro traz as contribuições de Marx e Engels, especialmente no Manifesto Comunista, para o con...

O império de um estadista

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  Minha formação O império de um estadista Aprendizado intelectual de Joaquim Nabuco e sua peculiar acuidade de visão são retratados em “Minha formação” PERON RIOS Joaquim Nabuco por Robson Vilalb Constituído de artigos publicados inicialmente nos periódicos O Comércio de São Paulo eRevista Brasileira, Minha formação, de Joaquim Nabuco, é um livro redigido entre 1889 e 1899. O texto, com um pano de fundo memorialístico, ganha reedição da Editora 34, fazendo-se acompanhar de valiosas imagens emprestadas de fontes diversas, como a Fundação Biblioteca Nacional, a Academia Brasileira de Letras e a própria Fundação Joaquim Nabuco. A edição é enriquecida por um estudo penetrante de Alfredo Bosi e pelo ensaio Massangana no seu original francês (Foi voulue). Joaquim Nabuco guardou do pai, o senador Nabuco de Araújo, a prática liberal que consiste em cultivar a “velha experiência”, sem o abandono da “nova experimentação”. Aqui, o olhar é certeiramente poético: à tradição aprendida, cabe ao ...

Apenas um socialismo possível

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http://4.bp.blogspot.com/…oon%2Bsocialismo%2B00.jpg O contínuo trabalho de conquista dos espíritos empreendido pelo liberalismo, que foi respaldado pelo poder político e fortificado à medida que o capitalismo ampliava sua empresa, conduziu à construção metódica de uma visão de homem cuja conduta se assenta sobre o interesse e a utilidade François Chesnais Para compreender as entranhas do liberalismo é preciso situá-lo na história e tomá-lo por inteiro. É isto que nos lembram dois livros publicados recentemente. A obra de Christian Laval tem o feitio e as qualidades de uma pesquisa [1]. A de Jean-Claude Michéa é um ensaio [2]. Juntos, os dois autores revivem a construção metódica de uma visão de homem cuja conduta assenta- se sobre o interesse e a utilidade. O contínuo trabalho de conquista dos espíritos empreendido pelo liberalismo, que foi respaldado pelo poder político e fortificado à medida que o capitalismo ampliava sua empresa, conduziu ao que Laval chama de uma "mutação antr...

O clamor de Antígona: parentesco entre a vida e a morte.

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Tragédia e Aprendizado * Marcos Sardá Vieira **   2 **Professor da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS); 2doutorando pelo Programa Interdisciplinar em Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, SC, Brasil. marcosarda@gmail.com Butler, Judith. O clamor de Antígona: parentesco entre a vida e a morte. 2014. Editora UFSC, Florianópolis/SC - Brasil: 128p. ISBN: 9788532806901. No livro O Clamor de Antígona, a autora Judith Butler apresenta uma reflexão sobre as relações de parentesco que vão além do entendimento das relações consanguíneas e dos princípios normativos associados à heteronormatividade. Em busca de um diálogo aberto com Hegel e Lacan, confrontando o poder legislativo do Estado e o desejo individual, a autora apresenta a tragédia de Antígona, personagem ficcional da peça clássica de Sófocles, na sua interpretação de uma quase heroína queer, que desafia a convenção do amor, do parentesco e do seu papel social como mulher. O livro ...